quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

AS MÃOS AMOROSAS: Cláudio

 

  
Sérgio Azevedo Fotos


O Cláudio é paisagista, tem um café perto do Centro Budista que ele gerencia, com antiguidades de família. Um espaço idealizado por ele, tanto interno quanto externo, cheio de história. Tive o prazer de conhecer o Cláudio em março de 2020 na Turma Trabalho do Ator em São Francisco de Paula, na Boutique Viale, turma incrível que infelizmente a pandemia nos fez parar com o presencial e migrar para o online um certo tempo. Mas a amizade com todos se mantém viva. Depois, no meio da pandemia ele veio a Canela fazer comigo o Curso de Desinibição, eu fui duas vezes também no espaço dele dar aulas. Trocas, aprendizados e confidências e meio a muitas flores e plantas. 

Dizem que colhemos o que plantamos! Essa frase para mim é extremamente peculiar porque ouvi e recebi ela por email em 2010 quando tive o primeiro colapso da minha vida e surgiu daí o primeiro intensivo O Ator e sua Verdade. Fui atrás da minha e encontrei na dor minha mais poderosa aliada. O Cláudio foi o primeiro inscrito para o intensivo de 2021, desde que ele soube da existência me dizia "vou fazer, pode contar comigo". 

E ele veio, quietinho, do jeito dele, com aquela postura impecável, quase um lorde, olhar observador, mãos expressivas que deixam transparecer a alma. O receio de receber crítica, foi transferido a risadas verdadeiras, amizades novas, novo "confinamento".  Embalado pelo "Gracias a la Vida" de Mercedes Sosa, ele nos mostrou a simplicidade da vida, de quem importa. Do que importa. Vi um ser totalmente entregue aos exercícios, sugando, buscando, saindo da zona de conforto sem racionalizar.


Jacques Copeau em seu diário escreveu: o erro e o mal é esperar a vida, é implorar a existência: é preciso merecer, querer e provocar a vida. Jamais se deve esperar. É preciso correr para a existência como um animal enlouquecido pelo cio de viver; abraçá-la com paixão e a possuir como a uma amante. (1898)

Me atrevo a dizer, ou melhor, escrever, que Cláudio esperou muito da vida, implorou pela vida e se fechou nela por muito tempo. Assim como as sementes que caem na terra e sempre voltam a brotar, ele brotou de si mesmo, das próprias entranhas. Da sua sombra fez luz. Decidiu antes de abraçar a vida, abraça a si mesmo, a própria dor. AbraçaDOR! E ele tem mãos gigantes e sensíveis para isso. Para abraçar a dor dele e dos outros.

Um ser sensível, profundo e com voz grave. Quando ele está muito nervoso ou emocionado suas mãos tremem e por vezes nos roubam o foco. Justamente elas ele explorou na sua cena individual com aquele olhar que parece sempre ver mais longe do que nós...

Um ator pedra bruta, só precisa lapidar para se tornar diamante. Sua grandeza está na sua alma. Na sua sutileza. Se eu fosse dirigir o Cláudio ou escolher algum personagem a ele depois do que vivemos nesse último intensivo, talvez lhe daria algum personagem de Oscar Wilde ou um personagem que fale nas entrelinhas e nas respiradas do Tennessee Williams. Potência e sutileza ele tem para isso. Talvez ainda não saiba, mas o material fecundo já existe nele para a Criação Artística Teatral.

Uma palavra para Cláudio: fotossíntese






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