terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A FERA: Samara

Sérgio Azevedo Fotos

Começo meus relatos sobre os participantes do ano de 2021 do Intensivo Ator e Sua Verdade com a Samara, artista plástica. Desde que a conheci não sei porque sempre a chamei de "Fera Selvagem". Creio que também pela referência ao cabelo. Bom, Samara foi uma das pessoas que entrou nos "45 do segundo tempo"para fazer o curso. Ela já conhecia o espaço A Nova Terra e meu trabalho, mas nunca tinha feito nada específico comigo. 

A energia dessa mulher sempre foi alto astral, um sorriso contagiante, uma potência de criação e adaptação de cidades, escolhas, artes em si... Ela chegou meio sutil no curso, para minha surpresa um pouco quieta, já nos primeiros exercícios muitas percepções dela sobre ela mesma, de fora via um corpo muito expressivo, com presença, força, tônus, de ritmo próprio. Gestos pontuais. Limpos. A sua cena forte, com pausas de gestos,  muita força em cada movimento, um desabafo. (Quando falo cena é um exercício específico que acontece desde o primeiro ano do intensivo, onde cada participante escolhe uma música e leva para fazer uma cena onde eu interajo (ou não), seguindo a linha do "sentir"e não do improvisar ou representar. Samara falou sobre seu cansaço, sobre não reconhecer-se, sobre não querer mais "agradar". Para nossa surpresa no outro dia, utilizando agora a música e transmutando sua energia para a criação, veio uma força em gestos de uma guerreira, não teve nenhuma palavra dita, mas cada célula do seu corpo dizia algo. Estava tudo ali, falando por si. Até mesmo as pausas, agora mais contidas estavam presentes. Vi Iansã, convocando a todos para a guerra. Sem medo, de peito aberto. Guerreira generosa. Força e coragem presentes. Era impossível tirar o olho dela. Dessa força da terra que emanava pelos poros. A menina, a mulher, a força sem violência. 

Nasce uma grande atriz. Corporalmente pronta. Que já tem a Arte circulando nas veias pelas máscaras que fabrica, pela pintura, por tudo que faz. Ela de desmascarou, ela deu vida a outras máscaras, trocou de lado, de pele, voltou do lodo. Fênix!
Pensando com audácia, num personagem para ela ou um estilo, quem sabe Butoh, um passeio pelas máscaras expressivas, larvárias, e outra tantas. Começaria a explorar seu corpo, para só então (se necessário) chegar a um texto falado. 

Samara fala por si. Não precisa de porta voz.
A verdade dessa baiana arretada está sempre com ela, mesmo quando ela acha que não.











"Mas os pés não falam tanto quanto as mãos, porque eles ancoram a vida. Será que não é por isso que o butô existe?” Mas os olhos também dançam, é preciso ficar atento: “Cuide bem de seus olhos, existem danças assim, só de olhos. Veja bem, há todo um mundo que é apenas deles”
(Kazuo Ohno)

 

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