terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Rodrigo: nosso elfo chocolateiro

Sérgio Azevedo Fotos


Ele chegou atrasado. Perdeu a primeira noite do intensivo, achei que nem apareceria mais. Honestamente não sei se eu iria, não gosto das coisas pela metade. Mas o nosso "elfo" já havia feito o intensivo em 2019, que na época foi na D'arte Espaço Multicultural. Ele me procurou nos últimos dias de inscrição, me surpreendeu com a vontade de voltar a fazer, sendo que recentemente tinha passado pela experiência.

Ele chegou quase sem ar, olhos arregalados, energia pesada, densa. Não deu tempo nem de cumprimentar ou respirar, já joguei ele no exercício que estávamos fazendo. Ele só trocou de roupa e entrou. Entrou com tudo, logo as lágrimas jorraram e os exercícios de bioenergética foi onde vi ele se desprender aos poucos daquilo que tudo que estava com ele, e olha, não era pouca coisa.  Ao som de "vai na fé" lá foi ele fazer a sua cena, movimentos pensados, mas de repente, o elfo engraçado, aquele clown que ele tem e que falamos lá em 2019 dava as caras. A alegria ia tomando forma, mesmo tímida. Muitas ideias num corpo só. A mente do Rodrigo é ágil demais, e quando ele se expressa, muitas vezes tenho a impressão que não consegue dizer tudo e faz um esforço tremendo para se fazer entender. (minha leitura). Uma mente gigante que deve dar um trabalho pra ele gerir, acalmar pensamentos, ordenar ideias, colocar no papel tudo que cria, e sim, ele cria muito. Desde a energia que coloca no chocolate que fabrica, nos projetos que escreve, nas performances que desenvolve ou no som que balança os agitos noturnos.

Senti ele distante dos outros. Talvez em prece consigo. Nos momentos de estar com o grupo, ele sempre estava mais afastado, e olha que nem dormi no A Nova Terra, mas quando chegava via ele longe dos outros, nem o café com o grupo compartilhava. Mas como tenho meus surtos de individualidade como boa escorpiana que sou, respeito, não cobro e por vezes fui até ele e falei o que sentia. Ele me ouvia, ria ou chorava. Ali vinha o elfo. A magia toda está nele e ele sabe, mas ainda precisa exorcizar alguns demônios. 

A raiz do nome "elfo", alf, é a mesma de alvura, o que indica um caráter positivo. Criaturas mitológicas do folclore celta e escandinavo. Nem sempre aparecem bonzinhos. Rodrigo não tem orelhas pontudas, mas é "pequeno", poderia tranquilamente ser um elfo, mas como todos, nem sempre ele é bonzinho com ele. Nem sempre ele se cuida. Na maioria das vezes busca na Arte o antídoto. Ou no chocolate dos maias e astecas... Ou seja há nele essa mistura celta com povo andino. Rituais. Consagrações. Ele sabe, ele sente, ele estuda muito. Mas a vida não é uma lenda, a vida é dura, cobra, nos julga, nos maltrata, nos tece, nos fia dia a dia. E a gente vai se moldando e quando decidimos ir atrás da nossa essência vem os embates. Rodrigo está em um deles a meu ver. 


"Que o caminho seja brando a teus pés, que o vento sopre leve em teus ombros, que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos, que as gotas das chuvas molhem suavemente teu rosto, que o vento suave refresque teu espírito, que o sol ilumine seu coração, que as tarefas do dia não sejam um peso nos teus ombros, que a estrada abra à sua frente, que o vento sopre levemente em suas costas, que a estrada abra à sua frente... e até que nos encontremos de novo, que os Deuses guardem você na palma das suas mãos."




Uma palavra para Rodrigo: "nandor" (os que dão meia volta) elfos de origem telerin

Com este depoimento encerro meus textos intuídos pós intensivo ator e sua verdade 2021 em plena pandemia. Nestes onze anos de curso não havia feito isso, de escrever sobre cada participante sobre o meu olhar "de fora". Talvez a "dor"minha velha amiga e aliada, que vi em cada um, tenha me instigado. 
Seguimos!

 Lisiane Berti

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Nossa fada ruiva: Amallia

 

Sérgio Azevedo Fotos


No dia 4 de janeiro de 2021, ela me enviou uma mensagem dizendo que infelizmente não ia poder fazer o intensivo (ela queria há muitos anos fazer e havia pré reservado sua vaga) porque precisava priorizar o financeiro.  Passou-se uns dias, escrevi a ela sobre uma possiblidade e ela então decidiu fazer. Uma outra mensagem emocionada, segundo ela, depois de chorar muito, conseguiu me escrever, tinha vivido muitas coisas nos últimos dias e estava muito grata, para ela era como um "sinal" de que estava no caminho certo e devia continuar. 

A ruiva, que já foi minha aluna e foi um dos demônios do Auto da Barca do Inferno que montamos, chegou radiante. Aberta, disposta e vulnerável. Há um tempo ela fez algumas escolhas decisivas em sua vida, agora é terapeuta e tem escrito e publicado muitos videos sobre suas ideias e verdades. A cena individual dela foi algo estarrecedor. Costas largas, pesadas, segurando o peso do mundo. Aqui vi a fada presa. A fada cansada, a fada que não conseguia mais voar.  A fada que mal conseguia com o peso das próprias asas, a fada que não conseguia mais ver beleza no próprio jardim. Choro. Soluço. Intervenho na cena de abraçar e afagar as costas. Fazer cena com as costas que diziam tanto. Ela estava triste e sua tristeza inundou a sala. As lágrimas saiam das costas e formavam poças imaginárias. Sentimos com ela o mal estar que vem do êxtase de não caber na vida dos dias. Quando nem o dormir ajuda. 

No fim da cena, vemos o renascer das asas das borboletas, ou da fada, ou do que você quiser chamar. Ela se recusa a ser vencida. Levanta. Ela está viva, vai alçar mais um voo. Entrega. Como se ela arrancasse das costas, das suas profundezas as raízes desse sufocamento. Desse abafamento. A dor contida que ela nutriu, as feridas que abriu, sangraram uma a uma. Jorraram! A caminhada é longa, sofrida mas é vivida. Ser mestre de si mesmo é a mais difícil e dolorosa das Artes. É tão fácil falar do outro, "resolver"no outro, aconselhar o outro, usar metáforas no outro. Mas e a gente? E quando nos olhamos de verdade no espelho ou somos obrigados a fazê-lo? O que sobra dos cacos? Nos cortamos com os estilhaços? Convulsionamos? Caímos? Ficamos? Pedimos ajuda? Difícil pedir ajuda quando nem nós sabemos do que precisamos, não é? Mas tentar é o grande passo para a conquista. Amallia tenta e no outro dia nos brinca com uma cena consciente, usa seus movimentos, não convulsiona mas toda a sua verdade está ali, agora ócio criativo. Metamorfose linda de se ver e sentir.

Onde reside o segredo de uma imaginação que põe o ator em pé de igualdade com os tormentos do príncipe Hamlet ou com as desgraças de Édipo? Responde Goethe: "Se eu já não tivesse carregado o mundo em mim por pressentimento, com olhos abertos teria permanecido cego."









Uma palavra para Amállia: existência


domingo, 14 de fevereiro de 2021

Um gigante não egoísta: Vini

 

Sérgio Azevedo Fotos

Depois de passar sete anos na casa de seu amigo Ogro, o Gigante descobre que crianças invadiram seu palacete para brincar em seu jardim. Ele expulsa as crianças de sua propriedade e constrói um muro que a separa do resto da cidade. Isolado e sozinho, o Gigante percebe que o inverno hospedou-se definitivamente em sua casa e que a primavera recusa-se a voltar ao seu jardim, agora eternamente coberto pelo gelo e pela neve. Porém a chegada de um menino que resolve brincar no jardim, apesar da sua proibição, traz de volta a primavera e faz com que o Gigante reconheça o quanto tinha sido egoísta.

Este é um trecho de um dos poucos contos escritos por Oscar Wilde para crianças. Eu tive o prazer de assistir uma versão para bonecos em Canela no Festival de Teatro de Bonecos o qual coordenei em 2017 com a Artesanal Cia de Teatro do RJ, numa adaptação incrível, super premiada. Mas o que o gigante ou isso tem a ver com o Vini?

Bom, eu conheci o Vini pequeno, creio que uns 8 a 10 anos na Escola das Artes em Gramado, isso há uns bons anos atrás. Já dei aula para as irmãs dele e trabalhei com a mãe dele. Quando ele entrou para o Korvatunturi eu já não era mais preparadora de elenco e viemos a nos encontrar na montagem do espetáculo para a Pizzaria Cara de Mau que fiz a preparação no finalzinho de 2020. O Vini cresceu, um corpo gigante e trabalhado que brinco que gostaria de escravizar sexualmente, mas continua com o olhar e o coração puro de menino, daquele mesmo fofinho que conheci em 2008 ou 2009 sei lá... Me vem a referência do conto do Oscar Wilde porque o gigante dele aprende sobre o passar do tempo e sobre a natureza cíclica das coisas com poesia e ludicidade. 

No intensivo ele foi um dos primeiros que se inscreveu, chegou quietinho com sua mecha branca no cabelo negro, com ar latino. Há muito fogo e energia naquele corpo, porém condensado, guardado, talvez até, atrapalhado. Sua cena foi entre soluços, movimentos e silêncio. Aquele silêncio perturbador... aquele silêncio que nos deixa inquieto. E o gigante desaba, chora, soluça, dança a própria dor. Deito ao lado dele e sussurro no seu ouvido. Ele responde baixinho, das suas dores e cansaços cotidianos, as insistências em acreditar em todos... 

"- Não é preciso ter pressa menino. Deixa o gigante que habita em ti acordar!" seria meu "conselho" a esta joia rara de pessoa. Desconfia do sucesso. Desconfia de quem te cobra perfeição, desconfia de ti que se cobra duramente e tanto, tanta coisa, todo dia. A imperfeição é a mais preciosa, a mais fecunda das qualidades. Não vá rápido demais. Não se apresse em concluir nada e em se cristalizar. Dê para si mesmo o tempo de preparar a terra, semear e de fecundá-la, trata de fazer com que se enraíze nessa terra alguma planta de germinação lenta, mas robusta como você mesmo. Seja você mesmo, não se molde, não seja tão adaptável a tudo.

Vini é daqueles seres preciosos que é sempre bom ter perto, ele não vai criar atrito, ele vai sentir muito, vai se entregar, talvez falará pouco mas sempre pensará muito a respeito de tudo. Espero que ele não perca o ideal que o fez procurar arte na infância, exercer uma Arte de coração livre e puro, com honestidade e sinceridade que está acima do próprio talento. E ele é muito talentoso, mesmo que às vezes duvide disso. Seu coração nobre é o seu maior tesouro e por vezes sofre dilaceradamente porque sempre se entrega com amor. Amar dói. Reconhecer a dor é um ato de amor. AMOR e DOR, andam juntos, mesmo que a gente não aceite, ou romantize isso de vez em quando. 

Por quê? Porque cada um se deixa corromper pela ambição pessoal e pela sua necessidade imediata. Difícil é paciência, continuidade, abnegação, trabalhar no próprio escuro da dor e construir lentamente algo. Vini está construindo... 












Uma palavra para Vini: autoamor


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Com vocês, Jorge! Ho!Ho!Ho!

Sérgio Azevedo Fotos


O Papai Noel, digo, o Jorge, tive o prazer de conhecer no curso de desinibição em 2020. Eu fui indicada a ele por amigos em comum para ele aperfeiçoar a comunicação já que havia feito alguns trabalhos como Papai Noel no Natal Luz em 2019 e havia gostado. Ex veterinário aposentado, ele tem descoberto na Arte e no atores mais jovens com quem convive uma energia renovadora. Segundo ele mesmo.

Veio para o intensivo logo que comecei a divulgar. Sempre muito falante, prestativo, amoroso e com referências de musicais ou clássicos. Devo dizer que no intensivo eu não facilitei a vida dele, apenas disse que ele conhecia o próprio corpo e sabia do limite, mas "não peguei leve". Avisei que não pegaria. E cá para nós, não é qualquer um que tem a honra da presença do Papai Noel no curso. Digo, o Jorge!

Na sua cena individual uma música de Abba. Ele nos conta porque escolheu a música. Fala muito. Corpo inerte. Intervenho. No outro dia, outro grata surpresa. Uma conversa honesta com o espelho, que ele comenta foi difícil de encarar.  Ficamos surpresos com a verdade exposta. Jorge foi um bom conselheiro durante o intensivo para muitos. Vários comentaram comigo sobre como foi bom ter ele perto. Compartilhar ideias. Ele comenta que se viu em muitos. Nas dores latejantes, nas histórias, nas memórias. Riu e chorou com cada um. Logo que ele acabou a cena comentei que me "veio"ator de novela, vilão, no estilo de Lima Duarte, Jackson Antunes, entre outros grandes e talentosos que possuem uma interpretação precisa, acertada, peculiar eu diria. Já não era o nosso Papai Noel, era o Jorge, capaz de fazer muitos personagens, de mergulhar em contextos e atuações profundas, mas antes mergulhando em si mesmo. Nas dores guardadas, nos sapos que engoliu para seguir o que precisava. Nas escolhas que a vida lhe impôs e que nem sempre foram as que ele queria. Nas estradas que percorreu sozinho, sem rumo, pensando na vida ao som de alguma excelente música indo parar em lugares distintos. Esse é o Jorge, um espírito jovem num corpo mais vivido, mas não cansado.  Por mais que as costas lhe torturem às vezes, eles insiste e resiste. Segue agora um novo sonho, se embrenhar no mundo das artes cênicas,  experimentar ser e estudar a arte de ator. Ator de si mesmo. Quer melhor interpretação digna de Oscar?

Acredito que ele não tenha desejo mais ardente do que ter a vitalidade teatral, aquela que se manifesta nos jovens amigos com quem ele fez amizades e gosta de estar perto. Com esforço, ideias como o "Kafofo do Noel", esforços e realizações. Henry Becque saudou o Théâtre Libre: "Avante e passem por cima do nosso corpo."Avante, avante sempre! Ele comentou pós curso que ainda estava "doendo" muito tudo, mas ele voltaria em julho novamente. Te esperaremos de braços abertos.




 

Nossa vez de escrever uma carta ao Papai Noel:

"Querido Noel Jorge, o caminho que escolheu, no qual tem se engajado tão corajosamente e tão alegremente, é um caminho verdadeiro.
Siga! Você se comportou bem, merece!" 


Uma palavra para Jorge: plenitude

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Cleiton: nosso pintor do mundo

 

Sérgio Azevedo Fotos


Eu conheço o Cleiton há mais de 20 anos, já trabalhamos juntos em diversos espetáculos, somos escorpianos profundos e temos muitas histórias pessoais vividas e celebradas. Ele participou do segundo ator e sua verdade em 2013 no Teatro Casa de Pedra. Desta vez, foi um dos últimos que se inscreveu, teve que mexer na grade de horários pois estava trabalhando e precisava se liberar. Só não conseguiu se liberar da apresentação de domingo de manhã,  a qual saiu e voltou para o encerramento.

Ele trocou a música, se emocionou muito durante os exercícios, desde o princípio, estava ali muito presente, muito ele, muito entregue. Na sua cena individual riu e chorou e disse que não sabia o que fazer... no outro dia vimos ele com seu pincel imaginário pintando o mundo, colorindo o mundo, nos dando um banho de energia e cores. 

Todos que vem para o intensivo já costumam entrar em processo criativo antes, costumo dizer que ao "aceitar e se inscrever" automaticamente o processo interno começa a se preparar para externar o que precisa. Muitas vezes a pessoa nem sabe o que é, sente. Tenta desmentir, fugir, se boicotar, mas acaba cedendo. Foi a primeira vez que vi o Cleiton sem máscaras, sem boicote, sem autodefesas. Ele estava ali apenas, mesmo com seu humor ácido e debochado, vi ele muito "limpo" no sentido de simplesmente "estar". Acompanhei os processos e mudanças dele pessoais nos últimos tempos, na pandemia tivemos algumas ideias loucas que colocamos em prática juntos e que nos renderam boas risadas e vinhos e papos e confidências...

Há um tempo ele vem pintando camisetas de um forma muito particular, tem um traço homogêneo e tem conseguido boas parcerias para divulgar seu trabalho, lindo por sinal, muito particular. Ele segue pintando o mundo, abraçando a vida, entendendo os tombos, as perdas, se liberando do que não foi, do que não é como ele quer, e desde então, tem sofrido menos, vivido mais. Qualidade de  vida, menos quantidade. As feridas começaram a cicatrizar, e talvez como Frida Kahlo que pintava sua dor colorida, ele começou a encontrar nos seus traços um novo caminho, um novo viés de ser quem se é, sem querer agradar.

Já escrevi e dirigi peças para ele, infantis, adultas, mas hoje, talvez escrevesse algo infantil, "O menino que pintava o mundo", algo nessa linha... acho que até existe algo com esse nome. Vejo um menino em corpo adulto. Sobre um menino, que de tanto sentir, sentia o mundo diferente. Via cor onde não havia, via poesia onde todos estavam de olhos vendados... um menino especial, diferente, que tinha como maior tesouro o amor de seus pais. Se tudo escurecia ele desenhava como as crianças aprendem: um sol com sorriso largo. Se tudo entristecia, ele misturava suas tintas e "pingava" alegria fazendo um caminho de cores. Vejo esse menino puro nele, guardado numa caixa especial com acesso a poucos, raros. O mais puro amor e afeto ainda permanece intacto. Mesmo ele doado tanto sem nada receber...

Se fosse algo adulto, talvez pegaria as cartas de Van Gogh ao irmão e faria um monólogo a ele, com pouco fala, porque ele tem dificuldade para decorar texto, mas sempre se esforça. Gente do teatro como eu, como o Cleiton e tantos outros, mesmo que viva fora do teatro, só vive para o teatro. Somos infelizes se não vivemos nossa Arte, o nosso ofício, e mesmo fora de cena muitas vezes, buscamos arte nas pequenas coisas, porque ela sempre reverbera em nós. Até o acaso nos inspira, assediamos o desconhecido para fazermos o que viemos ao mundo fazer: ARTE!





"Apesar de tudo, me levantarei novamente: Voltarei ao meu lápis, que abandonei durante meu grande desânimo, e continuarei com meus desenhos."
(Van Gogh)


Uma palavra para Cleiton: estrelas







segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Nossa Josi "Lee"

 

Sérgio Azevedo Fotos


Conheci a Josi na A Nova Terra em janeiro de 2020, na primeira versão do intensivo por lá. Ela mora lá e faz parte da equipe. Lembro que ela comentou que queria muito fazer o curso quando desse. Neste ano, 2021, ela assistiu a live que fiz com a Tiele, (também da Nova Terra) e segundo ela, foi a partir dali que decidiu fazer sua inscrição.  

Ela chegou com seu jeito tranquilo, olhar verdadeiro, cativante e cabelo ruivo. Não tem como a gente não olhar para a Josi e lembrar da Rita Lee. O Papai Noel comentou isso no meio do curso. O braço tatuado, do tipo que não quer guerra com ninguém. Encontrou seu lugar no mundo e vai com calma, sem pressa. Dois momentos interessantes pra mim dela logo no início dos trabalhos é ela comentar que estava bem e tranquila e que talvez não tivesse dor para trabalhar. Isso a fazia se sentir culpada. Culpada por estar bem e ser feliz. Em outro exercício, mas especificamente da raiva, ela comentou que sentiu prazer na crueldade, que achou interessante ao invés de gritar e esbravejar a raiva, olhar um a um e falar coisas "pesadas". Novamente ela se desculpava e se sentia culpada por gostar dessa crueldade. Que adorava assistir e estudar perfis de serial killers em séries... isso a atraia.

Meu Deus a Josi é louca e psicopata? Não, minha gente! A Josi é honesta e pés no chão. Cada exercício um sentir, proposta do curso. Então veio sua cena. Ela cantou, riu e no outro dia nos surpreendeu. Primeiro pela produção/organização dos acessórios, maquiagem, figurino e detalhes. Brincou verbalizando: "Não sou do meio, mas me puxo!". Nela um cartaz escrito "culpa" nas costas que queimou. Livre, leve e solta com batom vermelho, dançou, girou, abriu os braços e voou para bem longe. Mulheres com pensamentos livres são capazes de ir muito além do horizonte de si mesmas. Josi nos abraça com sua leveza, verdade e elegância.  "Me cansei de lero, lero...dá licença mas eu vou sair do sério...quero mais saúde, me cansei de escutar opinião..." já cantava Rita, e Josi perpetua isso com sua forma de viver, de sentir, de fazer Arte com leveza.

Juntando o sentir dela com personagens de teatro, ela personificaria com certeza alguma das mulheres do maravilhoso e incompreendido Nelson Rodrigues. Ela tem essa aparência leve e ingênua mas corre nas suas veias desejo, fogo, Arte, raiva, amores, temores e coragem. Eita menina corajosa essa Josi. Quem sabe ela pudesse dar vida a uma Alaíde de Vestido de Noiva (primeira peça de Nelson que teve um grande sucesso) ou quem sabe Senhorinha de Álbum de família, que vai ao encontro do seu destino com a grandeza que vem da consciência da tragédia.  Josi poderia encenar qualquer uma das personagens rodrigueanas mesmo sem 'ser" atriz. A questão por sinal, não está no "ser" e sim no "sentir". E Josi sente o mundo de uma forma peculiar, vislumbrando cada detalhe. Sem se apegar muito a eles. 

Por que Nelson? Ele retratava a alma humana da sociedade brasileira  (leia-se classe média burguesa) de forma muito contundente, usando o grotesco, o disforme, o horrível, o ridículo, o burlesco além de tantas outras coisas. Tudo em Nelson é levado ao limite extremo, o que ele mesmo chamava de teatro  desagradável. Misturam-se no seu teatro o drama, a tragédia, a comédia e o lirismo, captando o universo. Um divisor de águas de um teatro do passado. 

Josi não tem medo de falar do seu sentir, de ter um certo prazer na crueldade, de sentir culpa por ser feliz. Ela tem a alma de menina em corpo de mulher, a sabedoria de um espírito antigo em corpo frágil. Frágil por ser sensível e vulnerável, aí está a maior força da Josi. Sua sensibilidade.







Uma palavra para Josi: Liberdade

"Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista."(Nelson Rodrigues)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Nossa Antígona: Karol

 

Sérgio Azevedo Fotos


A karol é uma ex aluna de muitos anos atrás. Lá de 2012 por aí, participante das primeiras maratonas de monólogos, premiada como atriz com teatro do absurdo. Fazia tempos que não a via pessoalmente, mas tínhamos contato pela rede social. Sabia que já era mãe e que tinha se formado em técnica de enfermagem. A Karol decidiu na última semana fazer o curso, fiquei muito feliz em saber que ela ia estar conosco, pois para mim sempre foi uma "super potência"como atriz. Karol participou do II Ator e Sua Verdade em 2013 no Teatro Casa de Pedra em Canela.

Ela chegou com aquela voz calma de sempre, olhar verde fundo, penetrante porém muito, muito cansada, para não dizer exausta. Fisicamente e mentalmente. Logo nos primeiros exercícios, é como se tudo que estava estancado começasse a verter, mas ainda com certo "controle".  Percebi nela muita tristeza, muita dor, dela e do mundo. Como se ela literalmente estivesse carregando o mundo nas costas. Entre um exercício e outro, uma liberação e outra de energia, veio a sua cena. Quando ela nos fala que escolheu a música porque a mesma, não tinha nada a ver com ela, nós rimos. Ela explica, que todo dia colocava para tentar manter a alegria ou mudar o humor indo para o trabalho. Que trabalho? UTI do hospital São Miguel, no meio da pandemia toda. De repente nosso riso foi fechando, o desabar e desabafo da Karol nos fez "murchar", não tinha movimento, tinha um "vômito", a dor do mundo, da pandemia, dos sonhos deixados ao lado para seguir, a força nas mãos e nas lágrimas, a voz rouca embargada. Seu relato foi visceral e doloroso de ouvir. Todos choramos, choramos juntos com ela como se quiséssemos pegá-la no colo e embalar e confortar. Como ela tem feito com todos os familiares dos óbitos de covid. Interferi na cena, pedi algumas coisas, sobretudo com o espelho. A abracei... entre soluços. No outro dia a cena que viria me deixou curiosa. O que sairia de criativo de toda aquela dor?

E ela se cobre com um lençol. Faz da dor poesia. Sem nenhuma palavra, uma cena cheia de movimentos e simbologias, exatamente o oposto de seu desabafo anterior. Ela sai plena, rindo, como se quisesse nos dizer que apesar de tudo ela ainda estava ali, viva, ainda tinha sonhos, não tinha medo de morrer, tinha medo de viver e não realizar o que alma clamava. Que cena linda e verdadeira. Na hora comentei que me veio as personagens das tragédias gregas, pela sua força e visceralidade. Olhar, mãos, gestos e uma voz que nos quebra, que não grita, é suave, tom baixo...

Karol para mim hoje, interpretaria Antígona de Sófocles. O autor coloca em cena uma mulher sem partidários, sem exército, sem nada. Antígona abala a tirania sozinha e isso numa sociedade em que a vida pública era de exclusiva competência masculina. O homem é terrível, dirá o coro. Nossa Karol presenciou por diversas vezes essa frase na íntegra em sua vida pessoal. 

A peça foi escrita há mais de 2500 anos, e ainda causa debates e indagações sobre a real motivação da devotada filha de Édipo arriscar a própria vida em nome de um princípio. Uau! Karol arrisca todo dia a sua vida, sua saúde inclusive mental em nome de um princípio: a saúde e o bem estar dos seus pacientes, dos filhos, da sua mãe, e por aí vai...  Antígona é uma mulher de coragem, orgulhosa, autoconfiante, que lutava por uma causa: prestar homenagem ao irmão defunto fazendo as libações e jogando um pouco de terra sobre seus restos. Tinha ousadia de liberdade nas atitudes e opiniões, desejava a igualdade entre os povos, buscava um mundo melhor, defensora de uma justiça em um mundo corrupto, onde o poder estava totalmente nas mãos do Rei. 

Transmutando a dor em Arte, Karol interpretaria uma Antígona como ninguém, consigo visualizar ela inclusive dando os textos. Antígona foi enterrada viva a mando de Creonte, talvez Karol tenha chego meio submersa, apenas com a cabeça de fora, pedindo socorro, conseguimos creio, fazê-la sair da própria cova, tumba, buraco, UTI, chamem como quiser, para "entubá-la" com boas energias, com amor e teatro. Ah o teatro, que maravilha ter ele como ferramenta para propiciar essas trocas.


 




"Será enterrada viva, em um túmulo subterrâneo, revestido de pedra, com alimento o bastante para que a cidade não seja maculada pelo sacrilégio. Lá não chegará som de humana voz, ela poderá conversar em paz com seus mortos queridos e invocar a Hades, o único Deus por ela venerado. Talvez a salve da morte... Talvez assim ela se convença de quão inútil é prestar culto aos mortos!" (Creonte)





Uma palavra para Karol: Oxigênio


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Nosso "dottore": Jonathan

Sérgio Azevedo Fotos


O Jonathan é um ex aluno do Estúdio de muitos cursos. O coelho da Páscoa Bartolomeu da Escola de Coelhos que escrevi em 2018 para a Páscoa em Nova Petrópolis e nos divertimos muito fazendo. Fazia um tempo que não o via,  agora está ruivo e brincava que era para oficializar ser "irmão"da Amállia, sua amiga ruiva, selando a irmandade de coração.

Ele também foi um dos primeiros que se inscreveu para o intensivo deste ano, um dos primeiros que me mandou seu depoimento pós curso, um dos muitos que nos emocionou. Aquela alma de criança pura, crescida num corpo adulto, mas não preso. Uma gargalhada que ressoa, nos faz ter vontade de rir junto. O irmão que a gente quer ter, para rir, confidenciar, cuidar, apertar, pedir colo e chorar. 

Na sua cena individual, literalmente seu corpo se transformou no "Dottore"ou "doutor" da Commedia dell'arte, pelo menos foi o que senti e vi. 
Na commedia dell'arte estão em jogo as grandes trapaças da natureza humana: fazer acreditar, iludir, aproveitar de tudo; os desejos são urgentes; os personagens, em estado de "sobrevivência". A commedia dell'arte é uma arte da infância. Passa-se muito rapidamente de uma situação a outra, de um estado a outro. Dottore, além de sua máscara característica e seu físico específico é o personagem que sabe tudo e não conhece nada.
Jonathan entra em cena como dottore, punhos cerrados, "crava os pés no chão"e desaba. Desaba em choro infantil convulsivo, de criança que fez algo errado e pede desculpas. O corpo totalmente articulado, a voz embargada. Um monólogo cheio de emoção. Eu vi o personagem da commedia dell'arte fisicamente, mas Jonathan não pensou nele ao entrar em cena, apenas sentiu o desconforto de não saber o que fazer e deixou o vazio o guiar. Difícil entrar em cena sem "saber o que fazer". Totalmente desconfortável, "desnudo"e honesto consigo. Do seu monólogo veio um amor incondicional a amiga/irmã, um abraço e uma cena linda, que a gente só acha que acontece nos filmes da extinta sessão da tarde.

No outro dia, consciente, usou a ideia do personagem dottore, e fez uma cena exatamente oposta, de comédia. Pegou sua dor, transmutou, criou, riu, usou o físico do personagem e criou um coveiro. Talvez a autópsia tenha sido nele mesmo, abriu o próprio coração na frente de pessoas desconhecidas não é para qualquer um, ouso dizer, não é nem para qualquer ator. Num dia choramos com ele, no outro rimos e nos deliciamos com sua criação. Para mim, o mais importante foi o processo, o processo que levou a esse produto final criativo. A caminhada vale mais que chegar ao topo da montanha e contemplar a vista. A caminhada te cansa, te machuca mas te torna mais forte. Mais preparado para tudo.

Na commedia dell'arte as relações são imutáveis. Sempre haverá servidores e patrões. A ideia não é mudar a sociedade mas mostrar a natureza humana em sua comédia feita de trapaças e de comprometimentos, indispensáveis à sobrevivência dos personagens. Os personagens sempre dão um jeito, o seu jeito!

Jontahan também deu o seu jeito para enfrentar os dramas da vida, que não foram poucos. Também teve a humildade de pedir desculpas com verdade, de abandonar barcos que já não o levavam a lugar algum. De buscar em si tudo o que precisava. Sem querer ele fez um personagem absolutamente fiel a ideia da commedia dell 'arte no domingo, comicamente. Rimos muito. Rimos com ele, "não dele" como outros já o fizeram o machucaram profundamente.  Mas como os animais (que cada personagem da commedia segue um instinto) lambemos as feridas para cicatrizar mais rápido, levantamos, com a mão estendida dos amigos/irmãos de verdade e seguimos. 

A meia máscara do dottore remete ao porco, animal de quintal, domesticado.  Cada um com seu papel social, neste caso a baixa corte da época,  dentro do jogo que a commedia dell'arte impõe. Só não eram ridicularizados os detentores do poder absoluto. Tanto que os enamorados, os nobres e cavaleiros não usavam máscaras. Jonathan tem entendido duramente o jogo da vida, decidiu tirar a sua máscara para agradar muitos e ser ele, naturalmente ele.




 












Uma palavra para o Jonathan: TRANSFORMAÇÃO


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

AS MÃOS AMOROSAS: Cláudio

 

  
Sérgio Azevedo Fotos


O Cláudio é paisagista, tem um café perto do Centro Budista que ele gerencia, com antiguidades de família. Um espaço idealizado por ele, tanto interno quanto externo, cheio de história. Tive o prazer de conhecer o Cláudio em março de 2020 na Turma Trabalho do Ator em São Francisco de Paula, na Boutique Viale, turma incrível que infelizmente a pandemia nos fez parar com o presencial e migrar para o online um certo tempo. Mas a amizade com todos se mantém viva. Depois, no meio da pandemia ele veio a Canela fazer comigo o Curso de Desinibição, eu fui duas vezes também no espaço dele dar aulas. Trocas, aprendizados e confidências e meio a muitas flores e plantas. 

Dizem que colhemos o que plantamos! Essa frase para mim é extremamente peculiar porque ouvi e recebi ela por email em 2010 quando tive o primeiro colapso da minha vida e surgiu daí o primeiro intensivo O Ator e sua Verdade. Fui atrás da minha e encontrei na dor minha mais poderosa aliada. O Cláudio foi o primeiro inscrito para o intensivo de 2021, desde que ele soube da existência me dizia "vou fazer, pode contar comigo". 

E ele veio, quietinho, do jeito dele, com aquela postura impecável, quase um lorde, olhar observador, mãos expressivas que deixam transparecer a alma. O receio de receber crítica, foi transferido a risadas verdadeiras, amizades novas, novo "confinamento".  Embalado pelo "Gracias a la Vida" de Mercedes Sosa, ele nos mostrou a simplicidade da vida, de quem importa. Do que importa. Vi um ser totalmente entregue aos exercícios, sugando, buscando, saindo da zona de conforto sem racionalizar.


Jacques Copeau em seu diário escreveu: o erro e o mal é esperar a vida, é implorar a existência: é preciso merecer, querer e provocar a vida. Jamais se deve esperar. É preciso correr para a existência como um animal enlouquecido pelo cio de viver; abraçá-la com paixão e a possuir como a uma amante. (1898)

Me atrevo a dizer, ou melhor, escrever, que Cláudio esperou muito da vida, implorou pela vida e se fechou nela por muito tempo. Assim como as sementes que caem na terra e sempre voltam a brotar, ele brotou de si mesmo, das próprias entranhas. Da sua sombra fez luz. Decidiu antes de abraçar a vida, abraça a si mesmo, a própria dor. AbraçaDOR! E ele tem mãos gigantes e sensíveis para isso. Para abraçar a dor dele e dos outros.

Um ser sensível, profundo e com voz grave. Quando ele está muito nervoso ou emocionado suas mãos tremem e por vezes nos roubam o foco. Justamente elas ele explorou na sua cena individual com aquele olhar que parece sempre ver mais longe do que nós...

Um ator pedra bruta, só precisa lapidar para se tornar diamante. Sua grandeza está na sua alma. Na sua sutileza. Se eu fosse dirigir o Cláudio ou escolher algum personagem a ele depois do que vivemos nesse último intensivo, talvez lhe daria algum personagem de Oscar Wilde ou um personagem que fale nas entrelinhas e nas respiradas do Tennessee Williams. Potência e sutileza ele tem para isso. Talvez ainda não saiba, mas o material fecundo já existe nele para a Criação Artística Teatral.

Uma palavra para Cláudio: fotossíntese






terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A FERA: Samara

Sérgio Azevedo Fotos

Começo meus relatos sobre os participantes do ano de 2021 do Intensivo Ator e Sua Verdade com a Samara, artista plástica. Desde que a conheci não sei porque sempre a chamei de "Fera Selvagem". Creio que também pela referência ao cabelo. Bom, Samara foi uma das pessoas que entrou nos "45 do segundo tempo"para fazer o curso. Ela já conhecia o espaço A Nova Terra e meu trabalho, mas nunca tinha feito nada específico comigo. 

A energia dessa mulher sempre foi alto astral, um sorriso contagiante, uma potência de criação e adaptação de cidades, escolhas, artes em si... Ela chegou meio sutil no curso, para minha surpresa um pouco quieta, já nos primeiros exercícios muitas percepções dela sobre ela mesma, de fora via um corpo muito expressivo, com presença, força, tônus, de ritmo próprio. Gestos pontuais. Limpos. A sua cena forte, com pausas de gestos,  muita força em cada movimento, um desabafo. (Quando falo cena é um exercício específico que acontece desde o primeiro ano do intensivo, onde cada participante escolhe uma música e leva para fazer uma cena onde eu interajo (ou não), seguindo a linha do "sentir"e não do improvisar ou representar. Samara falou sobre seu cansaço, sobre não reconhecer-se, sobre não querer mais "agradar". Para nossa surpresa no outro dia, utilizando agora a música e transmutando sua energia para a criação, veio uma força em gestos de uma guerreira, não teve nenhuma palavra dita, mas cada célula do seu corpo dizia algo. Estava tudo ali, falando por si. Até mesmo as pausas, agora mais contidas estavam presentes. Vi Iansã, convocando a todos para a guerra. Sem medo, de peito aberto. Guerreira generosa. Força e coragem presentes. Era impossível tirar o olho dela. Dessa força da terra que emanava pelos poros. A menina, a mulher, a força sem violência. 

Nasce uma grande atriz. Corporalmente pronta. Que já tem a Arte circulando nas veias pelas máscaras que fabrica, pela pintura, por tudo que faz. Ela de desmascarou, ela deu vida a outras máscaras, trocou de lado, de pele, voltou do lodo. Fênix!
Pensando com audácia, num personagem para ela ou um estilo, quem sabe Butoh, um passeio pelas máscaras expressivas, larvárias, e outra tantas. Começaria a explorar seu corpo, para só então (se necessário) chegar a um texto falado. 

Samara fala por si. Não precisa de porta voz.
A verdade dessa baiana arretada está sempre com ela, mesmo quando ela acha que não.











"Mas os pés não falam tanto quanto as mãos, porque eles ancoram a vida. Será que não é por isso que o butô existe?” Mas os olhos também dançam, é preciso ficar atento: “Cuide bem de seus olhos, existem danças assim, só de olhos. Veja bem, há todo um mundo que é apenas deles”
(Kazuo Ohno)