terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Rodrigo: nosso elfo chocolateiro

Sérgio Azevedo Fotos


Ele chegou atrasado. Perdeu a primeira noite do intensivo, achei que nem apareceria mais. Honestamente não sei se eu iria, não gosto das coisas pela metade. Mas o nosso "elfo" já havia feito o intensivo em 2019, que na época foi na D'arte Espaço Multicultural. Ele me procurou nos últimos dias de inscrição, me surpreendeu com a vontade de voltar a fazer, sendo que recentemente tinha passado pela experiência.

Ele chegou quase sem ar, olhos arregalados, energia pesada, densa. Não deu tempo nem de cumprimentar ou respirar, já joguei ele no exercício que estávamos fazendo. Ele só trocou de roupa e entrou. Entrou com tudo, logo as lágrimas jorraram e os exercícios de bioenergética foi onde vi ele se desprender aos poucos daquilo que tudo que estava com ele, e olha, não era pouca coisa.  Ao som de "vai na fé" lá foi ele fazer a sua cena, movimentos pensados, mas de repente, o elfo engraçado, aquele clown que ele tem e que falamos lá em 2019 dava as caras. A alegria ia tomando forma, mesmo tímida. Muitas ideias num corpo só. A mente do Rodrigo é ágil demais, e quando ele se expressa, muitas vezes tenho a impressão que não consegue dizer tudo e faz um esforço tremendo para se fazer entender. (minha leitura). Uma mente gigante que deve dar um trabalho pra ele gerir, acalmar pensamentos, ordenar ideias, colocar no papel tudo que cria, e sim, ele cria muito. Desde a energia que coloca no chocolate que fabrica, nos projetos que escreve, nas performances que desenvolve ou no som que balança os agitos noturnos.

Senti ele distante dos outros. Talvez em prece consigo. Nos momentos de estar com o grupo, ele sempre estava mais afastado, e olha que nem dormi no A Nova Terra, mas quando chegava via ele longe dos outros, nem o café com o grupo compartilhava. Mas como tenho meus surtos de individualidade como boa escorpiana que sou, respeito, não cobro e por vezes fui até ele e falei o que sentia. Ele me ouvia, ria ou chorava. Ali vinha o elfo. A magia toda está nele e ele sabe, mas ainda precisa exorcizar alguns demônios. 

A raiz do nome "elfo", alf, é a mesma de alvura, o que indica um caráter positivo. Criaturas mitológicas do folclore celta e escandinavo. Nem sempre aparecem bonzinhos. Rodrigo não tem orelhas pontudas, mas é "pequeno", poderia tranquilamente ser um elfo, mas como todos, nem sempre ele é bonzinho com ele. Nem sempre ele se cuida. Na maioria das vezes busca na Arte o antídoto. Ou no chocolate dos maias e astecas... Ou seja há nele essa mistura celta com povo andino. Rituais. Consagrações. Ele sabe, ele sente, ele estuda muito. Mas a vida não é uma lenda, a vida é dura, cobra, nos julga, nos maltrata, nos tece, nos fia dia a dia. E a gente vai se moldando e quando decidimos ir atrás da nossa essência vem os embates. Rodrigo está em um deles a meu ver. 


"Que o caminho seja brando a teus pés, que o vento sopre leve em teus ombros, que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos, que as gotas das chuvas molhem suavemente teu rosto, que o vento suave refresque teu espírito, que o sol ilumine seu coração, que as tarefas do dia não sejam um peso nos teus ombros, que a estrada abra à sua frente, que o vento sopre levemente em suas costas, que a estrada abra à sua frente... e até que nos encontremos de novo, que os Deuses guardem você na palma das suas mãos."




Uma palavra para Rodrigo: "nandor" (os que dão meia volta) elfos de origem telerin

Com este depoimento encerro meus textos intuídos pós intensivo ator e sua verdade 2021 em plena pandemia. Nestes onze anos de curso não havia feito isso, de escrever sobre cada participante sobre o meu olhar "de fora". Talvez a "dor"minha velha amiga e aliada, que vi em cada um, tenha me instigado. 
Seguimos!

 Lisiane Berti

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