domingo, 14 de fevereiro de 2021

Um gigante não egoísta: Vini

 

Sérgio Azevedo Fotos

Depois de passar sete anos na casa de seu amigo Ogro, o Gigante descobre que crianças invadiram seu palacete para brincar em seu jardim. Ele expulsa as crianças de sua propriedade e constrói um muro que a separa do resto da cidade. Isolado e sozinho, o Gigante percebe que o inverno hospedou-se definitivamente em sua casa e que a primavera recusa-se a voltar ao seu jardim, agora eternamente coberto pelo gelo e pela neve. Porém a chegada de um menino que resolve brincar no jardim, apesar da sua proibição, traz de volta a primavera e faz com que o Gigante reconheça o quanto tinha sido egoísta.

Este é um trecho de um dos poucos contos escritos por Oscar Wilde para crianças. Eu tive o prazer de assistir uma versão para bonecos em Canela no Festival de Teatro de Bonecos o qual coordenei em 2017 com a Artesanal Cia de Teatro do RJ, numa adaptação incrível, super premiada. Mas o que o gigante ou isso tem a ver com o Vini?

Bom, eu conheci o Vini pequeno, creio que uns 8 a 10 anos na Escola das Artes em Gramado, isso há uns bons anos atrás. Já dei aula para as irmãs dele e trabalhei com a mãe dele. Quando ele entrou para o Korvatunturi eu já não era mais preparadora de elenco e viemos a nos encontrar na montagem do espetáculo para a Pizzaria Cara de Mau que fiz a preparação no finalzinho de 2020. O Vini cresceu, um corpo gigante e trabalhado que brinco que gostaria de escravizar sexualmente, mas continua com o olhar e o coração puro de menino, daquele mesmo fofinho que conheci em 2008 ou 2009 sei lá... Me vem a referência do conto do Oscar Wilde porque o gigante dele aprende sobre o passar do tempo e sobre a natureza cíclica das coisas com poesia e ludicidade. 

No intensivo ele foi um dos primeiros que se inscreveu, chegou quietinho com sua mecha branca no cabelo negro, com ar latino. Há muito fogo e energia naquele corpo, porém condensado, guardado, talvez até, atrapalhado. Sua cena foi entre soluços, movimentos e silêncio. Aquele silêncio perturbador... aquele silêncio que nos deixa inquieto. E o gigante desaba, chora, soluça, dança a própria dor. Deito ao lado dele e sussurro no seu ouvido. Ele responde baixinho, das suas dores e cansaços cotidianos, as insistências em acreditar em todos... 

"- Não é preciso ter pressa menino. Deixa o gigante que habita em ti acordar!" seria meu "conselho" a esta joia rara de pessoa. Desconfia do sucesso. Desconfia de quem te cobra perfeição, desconfia de ti que se cobra duramente e tanto, tanta coisa, todo dia. A imperfeição é a mais preciosa, a mais fecunda das qualidades. Não vá rápido demais. Não se apresse em concluir nada e em se cristalizar. Dê para si mesmo o tempo de preparar a terra, semear e de fecundá-la, trata de fazer com que se enraíze nessa terra alguma planta de germinação lenta, mas robusta como você mesmo. Seja você mesmo, não se molde, não seja tão adaptável a tudo.

Vini é daqueles seres preciosos que é sempre bom ter perto, ele não vai criar atrito, ele vai sentir muito, vai se entregar, talvez falará pouco mas sempre pensará muito a respeito de tudo. Espero que ele não perca o ideal que o fez procurar arte na infância, exercer uma Arte de coração livre e puro, com honestidade e sinceridade que está acima do próprio talento. E ele é muito talentoso, mesmo que às vezes duvide disso. Seu coração nobre é o seu maior tesouro e por vezes sofre dilaceradamente porque sempre se entrega com amor. Amar dói. Reconhecer a dor é um ato de amor. AMOR e DOR, andam juntos, mesmo que a gente não aceite, ou romantize isso de vez em quando. 

Por quê? Porque cada um se deixa corromper pela ambição pessoal e pela sua necessidade imediata. Difícil é paciência, continuidade, abnegação, trabalhar no próprio escuro da dor e construir lentamente algo. Vini está construindo... 












Uma palavra para Vini: autoamor


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