segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Nossa Josi "Lee"

 

Sérgio Azevedo Fotos


Conheci a Josi na A Nova Terra em janeiro de 2020, na primeira versão do intensivo por lá. Ela mora lá e faz parte da equipe. Lembro que ela comentou que queria muito fazer o curso quando desse. Neste ano, 2021, ela assistiu a live que fiz com a Tiele, (também da Nova Terra) e segundo ela, foi a partir dali que decidiu fazer sua inscrição.  

Ela chegou com seu jeito tranquilo, olhar verdadeiro, cativante e cabelo ruivo. Não tem como a gente não olhar para a Josi e lembrar da Rita Lee. O Papai Noel comentou isso no meio do curso. O braço tatuado, do tipo que não quer guerra com ninguém. Encontrou seu lugar no mundo e vai com calma, sem pressa. Dois momentos interessantes pra mim dela logo no início dos trabalhos é ela comentar que estava bem e tranquila e que talvez não tivesse dor para trabalhar. Isso a fazia se sentir culpada. Culpada por estar bem e ser feliz. Em outro exercício, mas especificamente da raiva, ela comentou que sentiu prazer na crueldade, que achou interessante ao invés de gritar e esbravejar a raiva, olhar um a um e falar coisas "pesadas". Novamente ela se desculpava e se sentia culpada por gostar dessa crueldade. Que adorava assistir e estudar perfis de serial killers em séries... isso a atraia.

Meu Deus a Josi é louca e psicopata? Não, minha gente! A Josi é honesta e pés no chão. Cada exercício um sentir, proposta do curso. Então veio sua cena. Ela cantou, riu e no outro dia nos surpreendeu. Primeiro pela produção/organização dos acessórios, maquiagem, figurino e detalhes. Brincou verbalizando: "Não sou do meio, mas me puxo!". Nela um cartaz escrito "culpa" nas costas que queimou. Livre, leve e solta com batom vermelho, dançou, girou, abriu os braços e voou para bem longe. Mulheres com pensamentos livres são capazes de ir muito além do horizonte de si mesmas. Josi nos abraça com sua leveza, verdade e elegância.  "Me cansei de lero, lero...dá licença mas eu vou sair do sério...quero mais saúde, me cansei de escutar opinião..." já cantava Rita, e Josi perpetua isso com sua forma de viver, de sentir, de fazer Arte com leveza.

Juntando o sentir dela com personagens de teatro, ela personificaria com certeza alguma das mulheres do maravilhoso e incompreendido Nelson Rodrigues. Ela tem essa aparência leve e ingênua mas corre nas suas veias desejo, fogo, Arte, raiva, amores, temores e coragem. Eita menina corajosa essa Josi. Quem sabe ela pudesse dar vida a uma Alaíde de Vestido de Noiva (primeira peça de Nelson que teve um grande sucesso) ou quem sabe Senhorinha de Álbum de família, que vai ao encontro do seu destino com a grandeza que vem da consciência da tragédia.  Josi poderia encenar qualquer uma das personagens rodrigueanas mesmo sem 'ser" atriz. A questão por sinal, não está no "ser" e sim no "sentir". E Josi sente o mundo de uma forma peculiar, vislumbrando cada detalhe. Sem se apegar muito a eles. 

Por que Nelson? Ele retratava a alma humana da sociedade brasileira  (leia-se classe média burguesa) de forma muito contundente, usando o grotesco, o disforme, o horrível, o ridículo, o burlesco além de tantas outras coisas. Tudo em Nelson é levado ao limite extremo, o que ele mesmo chamava de teatro  desagradável. Misturam-se no seu teatro o drama, a tragédia, a comédia e o lirismo, captando o universo. Um divisor de águas de um teatro do passado. 

Josi não tem medo de falar do seu sentir, de ter um certo prazer na crueldade, de sentir culpa por ser feliz. Ela tem a alma de menina em corpo de mulher, a sabedoria de um espírito antigo em corpo frágil. Frágil por ser sensível e vulnerável, aí está a maior força da Josi. Sua sensibilidade.







Uma palavra para Josi: Liberdade

"Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista."(Nelson Rodrigues)

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